sexta-feira, 23 de março de 2012
Phenomenal Woman
Maya Angelou sempre teve a capacidade de me encantar e me fazer entender a condição de mulher, e mais, a condição de mulher negra, algo que nunca poderia experimentar sendo branca. Ela me fez entender, me fez viver essa sensação.
Abaixo um de seus poemas, o meu favorito, Phenomenal Woman.
Pretty women wonder where my secret lies.
I'm not cute or built to suit a fashion model's size
But when I start to tell them,
They think I'm telling lies.
I say,
It's in the reach of my arms
The span of my hips,
The stride of my step,
The curl of my lips.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.
I walk into a room
Just as cool as you please,
And to a man,
The fellows stand or
Fall down on their knees.
Then they swarm around me,
A hive of honey bees.
I say,
It's the fire in my eyes,
And the flash of my teeth,
The swing in my waist,
And the joy in my feet.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.
Men themselves have wondered
What they see in me.
They try so much
But they can't touch
My inner mystery.
When I try to show them
They say they still can't see.
I say,
It's in the arch of my back,
The sun of my smile,
The ride of my breasts,
The grace of my style.
I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.
Now you understand
Just why my head's not bowed.
I don't shout or jump about
Or have to talk real loud.
When you see me passing
It ought to make you proud.
I say,
It's in the click of my heels,
The bend of my hair,
the palm of my hand,
The need of my care,
'Cause I'm a woman
Phenomenally.
Phenomenal woman,
That's me.
Maya Angelou
domingo, 18 de março de 2012
Minha vida (bem vivida) com a dor na coluna
Sempre fui uma pessoa dinâmica. Preguiçosa, admito, mas dinâmica. Sempre fiz tudo a pé, sempre gostei de andar e olhar coisas diferentes.
Meu trabalho como consultora em estudos socioambientais sempre me fez andar muito, às vezes quilômetros através de lama, terrenos tomados de mata, e pegar estradas esburacadas em jipes não muito confortáveis. Eu simplesmente adoro.
Também adoro comer, mas tenho problemas com o meu peso. Por conta de uma resistência natural à insulina, eu tendo a engordar rapidamente. Isso, e o fato de tomar uma série de medicamentos que interferem no meu metabolismo, mas não vem ao caso aqui.
Então, a dinâmica e serelepe Mariana sempre foi gordinha. Cheguei a pesar 120 kg, em 1,72m. Hoje já saí do que a Kell chama de 3 dígitos, mas com muita luta, e também por conta do que vou contar agora.
No Carnaval de 2010, eu pesava 105 kg. Mas, serelepe que sou, pulava em todos os blocos que podia e não podia. Barbas, Banda de Ipanema, Cordão do Boitatá, Cachorro Cansado, Bagunça o Meu Coreto, e praça São Salvador todas as noites. No segundo dia de carnaval, comecei a sentir uma dor constante na perna direita, como se repuxasse alguma coisa. Achei que era muscular e fui deitar um pouco. À noite estava me sentindo melhor, fui pra folia. De madrugada a dorzinha chata voltou, em menor intensidade, mas causando dormência no pé direito.
Bem, pulei meu Carnaval achando que tinha dado um jeito no pé, não deixei de me divertir. Ledo engano. A dor continuou. Quando fui para a aula inaugural do mestrado, ao tentar caminhar do campus até o restaurante para almoçar, minha perna direita travou, e mal conseguia levantar o pé pra andar.
O ortopedista foi taxativo: Espondilólise com espondilólistese em L5/S1. Nomes difíceis para doenças nem um pouco fáceis. E durante dois anos não quis pesquisar mais do que o que o meu ortopedista me havia informado. Uma vertebra sofrendo um processo degenerativo havia se deslocado sobre outra vértebra, e isso causava a dor intensa. Recomendou fisioterapia, RPG e acupuntura. Falou que eu precisava perder peso urgentemente. E me mandou ir a um neuro-cirurgião, caso a crise não cessasse.
Fiz a fisioterapia, fui a um ortomolecular e me tratei para poder perder 12kg em 6 meses, comecei as sessões de acupuntura 2 vezes por semana na Asbhamto, que não são cobertas pelo plano. Nesse primeiro período, toda ida para Niterói era um suplício. Eu fazia mestrado na UFF e moro no Rio, então eram viagens longas de ônibus, ou pingadas de barcas e ônibus. Mas eu ia. E os amigos ajudavam. Quando travava a perna, meu amigo Lucas me carregava até o ponto de taxi, e me levava até as barcas. E quando chegava no Rio, pegava outro taxi para casa. Em casa, me jogava na cama, e demorava umas horas até conseguir levantar novamente.
Perdi amigos que não entendiam o que eu estava vivendo. Não conseguiam aceitar o fato que eu não podia subir uma trilha até a cachoeira, ou virar a madrugada dançando. Que não dava pra ser a mesma coisa, apesar de ser a mesma pessoa. Esses “amigos” pararam aos poucos de me ligar, pararam de me procurar, até sumirem no horizonte das festas, biritas e pessoas sem problemas de saúde.
Depois de perder os 12 kg, as dores melhoraram bastante. Sentia dor diariamente, mas nada imobilizante. Pude trabalhar em projetos novos, inclusive viajando pelo Rio Grande do Norte. Fazia alongamento diariamente e comia o estipulado pela dieta.
No final de 2011 comecei a sentir a dor forte novamente, quando participava da ocupação na Cinelândia, o Ocupa Rio, defendia minha qualificação no mestrado e me mudava com minha família toda do apartamento onde morei por 25 anos no Flamengo para a Tijuca, aliás, Usina. Imaginem fazer isso tudo com dor? Eu fiz essa doideira. Já tinha um trabalho agendado para janeiro de 2012, e não ia perder trabalho por conta de dor nenhuma. Fui, viajei, e meu companheiro de campo brincava comigo, rindo: Poxa, Mari, onde você chega você se escora... Era exatamente isso. Onde chegávamos, eu encostava e me escorava contra a parede para reduzir a dor. Cheguei a empurrar umas duas bancadas com isso. risos
Ao chegar, resolvi finalmente marcar o neuro-cirurgião. A dor era insuportável.
Bem, com o exame de 2010, ele já foi categórico: prognóstico cirúgico. Solicitou novos exames, ressonancia, tomografia, eletroneuromiografia (esse exame é uma viagem rápida à minha idéia de inferno – choques e agulhas nos neros e músculos – MUITA DOR). A situação escalonou, piorou bastante e dessa vez eu resolvi pesquisar melhor sobre o que diabos é isso que tenho. Espondilólise com espondilolistese em L5/S1, com osteófitos em ambas as vértebras, espondilodiscopatia degenerativa e osteoartrose.
Explicando, agora que já sei exatamente o que os nomes difíceis significam:
Espondilo = vertebra
Lise = ruptura/quebra/fratura
Listese = escorregamento
Osteófitos = Bico de papagaio
Osteartrose = a velha e conhecida artrose
Discopatia = doença degenerativa nos discos intravertebrais
Traduzindo, eu tenho uma fratura na alça da vértebra lombar 5 (L5), dos dois lados da alça, e a vértebra escorregou sobre a vertebra de baixo, a sacra 1(S1). Nessas duas vértebras, surgiram bicos de papagaio (pequenas expansões ósseas que surgem nos discos intervertebrais da coluna, em consequência de um processo de artrose). O disco entre as duas está criando uma hérnia de disco, pressionando/comprimindo os nervos, e causando reflexo nas pernas, principalmente na direita. A artrose está em todas as articulações lombares e sacras, causando a tal doença degenerativa nos discos.
Bem, isso dito, explico mais: nenhuma dessas patologias tem cura. Elas tem tratamentos para impedir a rápida degeneração, e para impedir que a vértebra que está escorregando continue seu caminho. Isso inclui uma cirurgia, colocação de pinos para estabilizar a coluna, e muito, mas muito, muito tratamento fisioterápico e exercícios.
Preciso perder muito peso, para que não haja pressão sobre a coluna, então aumentei a restrição na dieta já bem rigorosa. Está dando resultado.
E porque contei isso tudo? Bem, só queria explicar que nada disso me parou. Continuo funcionando naturalmente, trabalho, estudo, leio, namoro, transo, me divirto, me estresso, vejo amigos, etc, etc. Se existem dificuldades, tento ultrapassá-las da melhor maneira que conheço, olhando pra frente, e sorrindo. Não é fácil, tem dias que mal consigo sair da cama, porque dói me mexer, mas estou exultante em saber que existe um procedimento que pode me fazer parar de sentir dor. O esforço é o de menos. Não conseguir sair de casa e ver gente é o que dói mais.
E sabe o que acho interessante? Todas as restrições que vivo hoje me deram o equilíbrio que sempre busquei na vida. Sempre tentei ser uma pessoa mais centrada, e nunca consegui, porque sou uma explosão de glitter em forma de ser humano. Grande, explosiva, expansiva, doce, meiga, direta, às vezes rude. E as restrições me fizeram buscar uma forma de viver menos “exagerada”, mas que fosse boa o suficiente pra mim. Continuo tentando. E viver algo assim te mostra realmente quem está ali por você. Quem te dá força, mesmo à distância. Com quem você pode contar, “come rain or come shine”.
Estou esperando o médico marcar a cirurgia. Deve ser em início de abril.
O que acontecer depois dela, bem, é uma outra história.
Beijos
Mariana